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30.11.04

ANARQUISTA E REACCIONÁRIO 

Chegou-nos apenas agora às mãos a edição de Fevereiro de 2004 da revista francesa L'histoire, em que avulta um artigo de Sophie Desormes, professora universitária de História, sugestivamente intitulado: 'Marcel Aymé: anarchiste et réactionnaire!' A autora não disfarça sequer os preconceitos políticos face ao consagrado escritor francês, mas nas duas páginas que lhe dedica acaba por pintar um retrato favorável de Aymé. Lembra que, em 1935, Marcel assinou a petição 'Pour la defense de l'Occident', lançada por Henri Massis e por membros da 'Action Française' - e que defendia, entre outras coisas, a empresa colonial de Mussolini na Etiópia. E não esquece a sua colaboração regular no 'Je Suis Partout', dirigido por Brasillach. Logo após, informa os leitores que Aymé sofreu a bom sofrer por altura da chamada 'Libertação' - é que, para lá dos 'delitos' anteriormente apontados, tinha vendido os direitos de um dos seus argumentos a uma sociedade cinematográfica alemã.
Por tudo isto, Desormes dá especial relevo à peça de teatro "La Tête des Autres", apresentada por Aymé em 1952 - uma contundente crítica à justiça francesa, que condenara à morte Brasillach; uma justiça, enfim, que não passava de vingança arbitrariamente administrada.
A autora conclui que Aymé tanto pode ser considerado um 'anarquista de direita' como um 'contra-revolucionário de esquerda', isto é, "sans référence à la divinité, sans complaisance pour l’Église, mais convaincu du péché originel, c’ést-à-dire de la nature profondément corrumpue de l’homme - comme l’atteste au plus haut point son roman de 1946, Le Chemin des écoliers". Defende a seguir que há em Aymé a nostalgia juvenil de um mundo sem 'política', sem conflitos, sem partidos.
Trata-se de notas quase avulsas em que se dá importância exagerada ao 'político', que Aymé nunca foi, em detrimento do homem de letras.

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